quinta-feira, 6 de março de 2014

Sara

Bicho Verde, Coisa, Morcego, Lula, Faneca e Dragão,
são seres que uso para contarem histórias sem fim.
As pessoas são como as pessoas, eu sou uma pessoa, meu nome é João.
E o que conto quando falo deles são no fundo coisas sobre mim.

Sendo assim e sem mais me alongar, o Bicho Verde está a amadurecer.
Sempre foi tendo, sempre quis ter, mas só agora sabe que Bicha é a sua mulher.
A Coisa (que qualquer coisa pode ser), usou esse seu poderoso feitiço.
E reage como sempre reagiu, contra o esperado… São pancas dele, é um esquizo...
Ao fim do dia, mal o sol se pôs, o Morcego ligou o radar e veio caçar.
Mas (erro de afinação ou encantamento superior), veio pela Borboleta a se apaixonar.
A Lula pintava um retrato da tia, com a tinta que das suas saias saía.
Intoxicou-se e alucinou. E viu a mais bela das mulheres, que de cabelo longo sorria.
O Peixoto Faneca, já recuperado
da ultima vez que foi pescado,
anda agora bem longe das salgadas águas da Aguda.
Hoje nada em mares de areia no Sahara e tem a sua ajuda.
E eu em modo Dragão levantei voo e gritei lá do alto superando o rugido do vento:
Este amor que tenho por ti Sara, é o meu mais verdadeiro e lindo sentimento!

terça-feira, 4 de março de 2014

Apetência para a incompetência

O sentir está deturpado.
Há sentimentos nos dicionários
E é preciso ter cuidado
Para nao os tornar ordinários.

Etapas, metas e novas visões
intrometem-se nos corações.
Deliciam-se a nos confundir
com um objectivo bem estudado:
o de matar o verdadeiro sentir.


De pequenino se torce o pepino
(Eu iniciei a masturbação já mais crescido)
Ao pequenino se doma e conduz o sentir alheio:
mão dada, abraço, e mais tarde um beijo.
tudo para anos depois ela linda e ele feio,
darem uma primeira queca mal dada sem qualquer rodeio.

A inocência antiga era assolada por fadas e dragões,
A de hoje em dia é dilacerada pela definição das emoções
Em grotescos livros grossos copiados aos milhões.

O namoro, o noivado, o casar e descasar.
Comprar cão ou comprar gato? Um ladra o outro vai miar.

Cedo no entanto ele começou a procurar,
Tendo lido e relido as definições do que queria encontrar.
Não tinha paciência para ler e volta e meia tornava-se a foder...
Eram tantos os signficados e ele sem nenhum de verdade entender.

Tanto escaldou o gato sem pêlo, que já de nada tinha medo.
Tornou-se frio e deixou de ser gato dragão...
E dedicou-se a outro tipo de emoção.
Sem grande dificuldade ganhou fama,
nunca por ele entendida nem estudada.
Talvez por daquilo que todos tinham ele pouco tinha a oferecer,
encontrou algo em si que na volta muitos desejam ter:

Uma natural apetência para a incompetência que espero seja um saber viver.

Teve aliados e aliadas. Amigos amigas e namoradas.
Conheceu gente que interessa a muita gente
e viu o quanto elas podem estar doentes.
Cresceu, viveu e apurou o seu amar,
com algumas das mais belas mulheres
que a este mundo vieram parar.

Formou-se numa escola por ele criada. Foi aluno condecorado.
Um dia fartou-se de tanta merda e desejou ser dedicado.
Pensava ter re-encontrado a resposta  e sentiu-se aliviado.
Puta de sorte a deste ser maldito que ficou logo atrofiado.
Para ele o assumir fosse o que fosse ultrapassava os limites da compreensão humana.
Enrolou, errou, não teve a coragem... e magoou quem a ele e ele próprio amava.

Em consequencia ambos padeceram de diversas doenças.
Umas imediatas, umas mais chatas e outras vindas ás avenças.
Finalizam o ciclo vivendo quiçá o seu maior degredo.
Acho mesmo que para ambos foi quase viver seus maiores medos.

E é aí, ao ser irrigado com o veneno que tudo mata,
que a besta verde acorda de uma dormencia inata.
Vive o seu mais estranho viver ao vivenciar
o ser dilacerado pela mais vil distorção do sentir definido como amar.
Se cair uma gota de sangue que seja, ele sabe que para sempre morrerá,
e sem nesse instante poder a olhar nos olhos assume e diz-lhe que para sempre e de verdade a amará.