E se eu fosse feito outra vez, se nascesse de novo?
Diria a mesma primeira palavra, daria os mesmos primeiros passos?
E se eu morrer agora?
O que deixaria por dizer, que bem faria ao mundo?
E se a lógica fosse caótica, teria o caos lógica alguma?
Se os peixes tivessem pernas,certamente continuavam no mar,
Pois sem pulmões, só com as guelras, não iam poder respirar.
Mas insisto nesse pensamento e nessa possibilidade,
E também dava aos peixes pulmões para respirarem à vontade.
Tive esta ideia absurda, baseada em algo que vi:
Foi no 77, um bar em que como noutros já muito bebi.
Aproximei-me entrando no beco pejado de criaturas inóspitas
Gunas xungas, fake freaks tonos e meninas hipocritas.
E de repente tudo se transformou, e no tempo eu recuei,
Veio-me à memoria os esgotos da ribeira onde tainhas eu pesquei.
Admito que foi um pensamento cruel, horrível e ofensivo.
Mas esse dia era especial, digamos que estava possuído.
E assim eu, peixe do mar, mergulhei naquela confusão
E pós uma luta frenética, consegui chegar ao balcão.
É bem verdade que até nos tratam com afecto
Mas senti-me uma tainha no esgoto atrás de um dejecto.
Gerou-se o pânico em minha mente, surgiu a confusão
Prefiro o mar, água salgada, porque estou aqui então?
Ponto de encontro de espécies, se o for é foleiro:
Há tainha à brava, umas enguias e um linguado rafeiro.
E vi-nos a nós, criaturas do mar, no meio daquele inferno
Bem queríamos o mato, o mar, mas parece inverno.
Polvinha não fiques tristes, mantém os oito braços no ar.
Sabes muito bem que quem resiste tudo consegue alcançar.
A felicidade é algo, é um sentimento, uma coisa estranha
Como um carícia tua, ás vezes é doce outras arranha.
Deve ser por isso que é tão bom, tão especial
E ao mesmo tempo começa a ser previsível, banal.
Quero nadar em outros mares e ser um peixe selvagem
É a minha natureza, sou astuto, seduzido, tenho a coragem.
Porque continuo a nadar na mesma poça da praia?
Tem de vir uma onda mais forte para que o bicho saia.
Como oferta especial, quero aqui deixar por escrito
Que independentemente do que venha a ser dito,
Bem fazemos mutuamente quando disso precisamos
E será certamente isso que ambos mais prezamos.
Quase tudo contar a alguém, quase tudo aquilo que encerramos no pensamento... Quais as implicações, as surpresas?
Viver a verdade é um caminho penoso, no fim existe uma porta, e eu esqueço-me sempre da puta da chave.
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